A carreira de um atleta tem altos
e baixos, não é novidade. Também a Catarina passou por cerca de um ano e meio
que foi um autêntico deserto. Mas, normalmente, sabemos qual a razão que leva
ao que o atleta passe a ter um menor rendimento.
Uma atleta que tem como recorde pessoal aos 3000 metros 09:58,85 e aos 3000 m obstáculos 10:32,69 da época de 2011, não se percebe como em 2012 passou para 10:05,68 no inverno, 10:29,40 no verão, aos 3000 metros, e 11:28,18 nos 3000 m obstáculos. Na época de 2012_2013 a melhor marca aos 3000 metros, até antes de dia 12 de Maio, era de 10:32,03 (Fevereiro). Mas como explicar este abaixamento do rendimento durante cerca de um ano e meio? Falta de treino, falta de empenho, doença, etc. O que complicava a compreensão do problema é que não sabíamos o porquê de ela estar a atravessar o tal “deserto” porque havia treino, empenho e não nos apercebíamos de qualquer doença que pudesse provocar esta situação.
Uma atleta que tem como recorde pessoal aos 3000 metros 09:58,85 e aos 3000 m obstáculos 10:32,69 da época de 2011, não se percebe como em 2012 passou para 10:05,68 no inverno, 10:29,40 no verão, aos 3000 metros, e 11:28,18 nos 3000 m obstáculos. Na época de 2012_2013 a melhor marca aos 3000 metros, até antes de dia 12 de Maio, era de 10:32,03 (Fevereiro). Mas como explicar este abaixamento do rendimento durante cerca de um ano e meio? Falta de treino, falta de empenho, doença, etc. O que complicava a compreensão do problema é que não sabíamos o porquê de ela estar a atravessar o tal “deserto” porque havia treino, empenho e não nos apercebíamos de qualquer doença que pudesse provocar esta situação.
Voltemos atrás no tempo. No final
da época de 2011, quando a Catarina esteve no campeonato da europa de Juniores em
Tallinn, pesava 48 kg. No início da época de 2011_2012 estaria com cerca de
49kg. Nesse início de época ainda foi ao Campeonato da Europa de Corta-mato de
Sub-23. Mas, num curto lapso de tempo, assim como quem não dá por isso, a
Catarina estava em Janeiro com 52 kg. Ora não é novidade que o peso nos atletas
de meio-fundo é de vital importância para o rendimento. Arrisco-me a afirmar
que por cada quilo que a Catarina aumentava o rendimento reduzia em cerca de 1%
(5 a 6s aos 3000 metros), ou, por cada 10% no aumento de peso (5kg) reduzia 5%
no rendimento (30s). Durante essa época o peso chegou quase aos 53 kg. Bom,
afinal parece que tínhamos descoberto a causa do abaixamento do rendimento.
Parece que sim, mas isto não explicava tudo. Mas qual a causa desse repentino
aumento de peso?
Voltemos à linha dos acontecimentos.
Logicamente que, com esta situação, tínhamos de fazer qualquer coisa. Recebemos
a ajuda da Nutricionista Cátia Pontes, da Alimentarte, que
seguiu a Catarina durante cerca de 3 meses (mais ou menos de Fevereiro a
Abril). Mas em vão, apesar de todos os esforços, a Catarina continuava com
cerca de 52 kg. Concluímos que o problema teria que ir mais além do que a
correção da alimentação. Pedi ajuda ao departamento médico da Federação
Portuguesa de Atletismo para despistar algum problema que pudesse levar ao
aumento de peso. A FPA entendeu que só faria sentido avançar para a área médica
depois da Catarina ser seguida pela nutricionista da FPA e assim foi durante
mais cerca de 3 meses (de Maio a Julho). Após este período o peso continuava na
casa dos 52/53 kg e a percentagem de massa gorda entre os 19 e 22%. Valores estes
que eram incompatíveis com um bom rendimento na área da resistência. Após
pressão da nossa parte, conseguimos uma consulta com a médica da federação que
após todo o historial, e perante a minha convicção de que o problema teria que
ter outra origem que não apenas a alimentação (talvez hormonal), passou as
análises para avaliar os valores hormonais. Concluindo, análises passadas,
consulta no especialista e diagnóstico de uma doença crónica na tiroide:
Tiroidite Autoimune Crónica ou tiroidite de Hashimoto. Após cerca de um ano e
meio conseguimos saber o que poderia estar a motivar este aumento de peso e,
consequentemente, a redução do rendimento.
A Tiroidite Autoimune Crónica é
uma doença auto-imune na qual o próprio organismo produz anticorpos contra a
glândula tireóide levando a uma inflamação crônica, com diminuição do seu
funcionamento (hipotireoidismo). Os sintomas da Tiroidite Autoimune Crónica
praticamente não são visíveis nas pessoas com atividades normais, ou que não
realizem grandes esforços durante o dia a dia. Portanto, a doença estava
instalada e, diretamente, não havia sintomas. Mas no atletismo os sintomas sentiam-se
sem nós sabermos do que se tratava. Segundo Paulo Zogaib, professor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em medicina do
desporto, no atleta com Tiroidite Autoimune Crónica “pode haver dificuldade em
manter a massa muscular e facilidade em ganhar peso, além de sintomas como
cansaço”. E segundo Miguel Melo*, várias patologias foram hipoteticamente
associadas à Tiroidite Autoimune Crónica, a maioria com base autoimune ou
alérgica. Ora, era exatamente isso que se passava com a Catarina em que além do
aumento do peso aconteciam episódios de cansaço extremo sem que houvesse razão
para isso.
Época de 2012_2013 |
Mas, diagnosticado o problema podemos
dizer que a travessia no deserto terminou? Só o tempo o dirá. Após três meses
de tratamento voltou a fazer análises e vai ser reavaliada pelo
endocrinologista de modo a perceber se a dosagem do medicamento se deve manter.
Para já, temos uma situação real: durante os meses de tratamento os treinos
estão claramente diferentes, o peso está perto dos 50kg e passou de 10:32,03 em
Fevereiro para 10:03,16 em Maio. Esperemos que o rendimento possa continuar a
evoluir, mas se a travessia do deserto terminou, só o futuro o dirá.
Este artigo pretende alertar os
treinadores sobre algumas situações dúbias que se nos deparam na nossa
carreira. Se o seu atleta aumenta de peso de forma descontrolada, coloque
várias hipóteses em cima da mesa, nem sempre a “culpa” está no atleta.
Rodeie-se de especialistas para que o diagnóstico seja correto e o problema
seja resolvido de forma rápida e eficaz.
* Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo dos
Hospitais da Universidade de Coimbra.
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