31 de dezembro de 2010

Catarina Carvalho deixa marca no atletismo distrital e quer ir mais longe: ”Espero estar ainda a crescer”

O atletismo entrou na sua vida aos 13 anos, quando estudava em Olhão, Algarve. Mas a ideia de se “alistar” num clube para correr era um objectivo que tinha há algum tempo e que começou a proporcionar-se num corta-mato escolar, prova que havia sido assistida pelo treinador do Clube Atlético Olhão (CAO), a convite de um aluno/atleta seu. Do segundo lugar conseguido por Catarina Carvalho ao convite para ingressar no clube daquela cidade foi um passo e iniciou-se aí uma história que terá ainda muitos mais capítulos para contar.
As voltas da vida levaram-na a regressar à Marinha Grande, sua terra Natal, e passou a correr pelo Clube de Atletismo da Marinha Grande. Em 2006 veio morar para a Meia Via, mas continuou a correr pelo emblema da terra do vidro durante mais uma ano. Durante a semana fazia os seus treinos por cá e ao fim-de-semana, quando calhava, ia à Marinha Grande (onde tem família) treinar obstáculos. A ligação de Catarina Carvalho a Torres Novas fortificou-se quando passou a vestir a camisola da UDR Zona Alta, clube no qual conseguiu o seu primeiro título de campeã nacional. Era juvenil de segundo ano quando alcançou o feito, na disciplina dos 2000 metros obstáculos: “No primeiro ano de juvenil não consegui ser campeã, pois fui segunda classificada, mas depois disse a mim mesma que tinha que conseguir no ano seguinte”. E assim foi. O ponto alto da sua ainda pequena (mas grande) carreira aconteceu recentemente, quando representou a selecção nacional no Corta-mato Europeu, que decorreu em Albufeira. Quando, na transmissão da prova em directo pela televisão, o locutor pronunciou o seu nome e o clube a que pertence, os colegas e dirigentes que assistiam à prova, encheram-se de orgulho. Também não é para menos! 
É tão bom, como se diz, representar a selecção nacional? O que se sente?
É lindo. É muito bom representar a selecção. Representar o nosso clube é bom, mas representar o nosso país é espectacular.
Esta foi a primeira internacionalização?
Já tinha representado a selecção nacional na República Checa, pelo desporto escolar.
Mas a nível federado foi a primeira vez?
Sim. Já tinha ido a um estágio, no Porto, mas nunca tinha sido apurada. Neste caso, para o Europeu de Juniores de Corta-mato, foram seleccionadas seis atletas, três numa prova em Oeiras e mais três numa outra prova, em Torres Vedras. Foram escolhidas as três melhores de cada uma das provas.
Foi a segunda melhor portuguesa das juniores. O que lhe disseram no final?
Disseram-nos que foi bom, mas a prova principal era dos seniores e foi a essa que estavam mais ligados.
Já conhecia as suas colegas de selecção?
Sim. Já tinha sido chamada para os estágios de preparação e foi no Porto que conheci a maioria. É uma concentração que se torna numa oportunidade para se conhecer pessoas e ganhar novas amizades.
E o ambiente. Numa selecção é necessariamente diferente do dos clubes?
É um ambiente totalmente diferente. Estamos a representar Portugal. Temos uma data de massagistas, médicos e a estrutura é completamente diferente.
A concentração da equipa aconteceu dois dias antes da prova.
Chegámos na quinta-feira, ficámos todos num hotel, não muito longe da praia. Na sexta-feira fizemos treinos de reconhecimento do percurso, com as seniores. Supostamente deveria ter treinado com as juniores. No resto do dia não fizemos nada de especial. No dia da corrida entrei um pouco em stress. Fiz o aquecimento e na hora da primeira chamada não sabia do meu saco e do sítio onde me encontrava, à zona da partida havia uma grande distância. Ainda tinha que levantar o chip e o dorsal e fiquei muito nervosa. Lá conseguimos chegar ao local da partida, decorreu a cerimónia, cantámos o Hino e durante a prova foi só correr. Passou tudo.
Depois o momento foi de descompressão?
No final fomos apoiar os seniores. Gritei tanto que fiquei rouca. No final já nem sei se me ouviam.
O atletismo faz parte do seu projecto de vida a nível profissional?
Assim espero, como a Jéssica Augusto. Não será só atletismo, terei que fazer outra coisa qualquer.
Não é possível fazer vida do atletismo?
Para alguns se calhar é, mas só para alguns. Tem que se ter uma profissão à parte para pagar as contas da casa.
Que gostava de fazer?
Quero seguir desporto, talvez ser professora de educação física. Este ano estou sem estudar, mas para o ano quero voltar à escola. Gostava de poder vir a frequentar o Centro de Alto Rendimento de Atletismo, em Lisboa.
O clube que representa é um meio para atingir um fim ou é em si um fim?
Não vou dizer que estarei para sempre na Zona Alta e que será aqui que conseguirei alcançar títulos. Temos que evoluir algum dia para chegar mais alto, mas estou bem aqui. Foi na Zona Alta que consegui o meu primeiro título, depois de andar desde os tempos de iniciada a fazer obstáculos sem conseguir nada. Foi aqui que comecei a evoluir, embora saiba que metade do que tenho, foi feito na Marinha Grande com o meu antigo treinador. Sei também que o meu actual treinador (Nelson Silva) também me ajudou muito... se calhar um dia vou ter que seguir para um clube maior, com outra dimensão.
A falta de condições de treino em Torres Novas não tem feito grande mal...
Para mim, que sou meio fundista, não faz grande diferença, mas os velocistas, que precisam de mais técnica, precisam de pista. Eu própria também me preparava melhor em pista e para o fazer tenho que ir a Alcanena ou a Tomar. O estádio de Torres Novas praticamente é corta-mato, é só lama. Vou treinando na estrada.
Onde treina o corta-mato?
Não se treina propriamente o corta-mato. Às vezes vou ao mato. O meu treinador faz-me subir rampas o põe-me, por vezes, a fazer autênticas escaldas, para desenvolver a componente resistência.
Já passou por algum susto, a treinar na estrada?
Já estive quase a ser atropelada. É preciso estar sempre atento e há até pessoas simpáticas que se desviam de nós e quase vão ao outro lado da estrada.
Qual é a disciplina em que é mesmo boa?
Nas provas de obstáculos. Já fiz os 1500, 2000 e agora faço os 3000 metros obstáculos.
E se um dia tiver que se especializar, por que modalidade optará?
Pelos 3000 metros obstáculos, embora goste muito de corta-mato. Por vezes faço outras corridas, por exemplo os 1500 metros, para treinar a velocidade. O corta-mato é para ganhar resistência.
 
Em 2010 participou nas mais diversas provas de expressão nacional. Logo em Janeiro, na pista de Pombal, esteve perto de subir ao pódio na prova de 3000 metros. Foi 4.ª classificada. Em Espinho, no nacional sub-23, foi 5.ª classificada e melhorou a marca distrital na distância. Foi a segunda melhor júnior. No corta-mato nacional de juniores, que decorreu em Março, em Albufeira, foi 4.ª classificada e, não fosse uma queda que atrapalhou, a sua situação na classificação, poderia ter conquistado uma medalha de pódio. Nesse mesmo mês, mas a nível distrital, foi campeã no olímpico jovem, em Benavente. Mais recentemente, no dia 12 de Dezembro, representou a selecção nacional no europeu de corta-mato, que decorreu no Algarve. Foi 37.ª da geral mas ficou o orgulho de ter sido a segunda melhor portuguesa em prova.
 
O ano de 2010 foi de afirmação ou de crescimento?
Crescimento. Espero ainda estar a crescer.
Mas sente que já se afirmou?
Não. Acho que tenho uma parte já formada, mas quando se é júnior ainda se está a crescer. Ainda faltam uns bons anos para me afirmar.
Depois desta experiência na selecção as provas distritais têm agora menos importância?
Não, também é bom ganhar as provas distritais. Para outras atletas minhas concorrentes vai ser pior, porque vêem em mim uma atleta que já foi à selecção.
Sabe bem quem são as suas adversárias?
Sim. Nos obstáculos não tenho grande concorrência, mas este ano pode haver aí umas surpresas...mas vou estar pronta.
Mas vai aparecer gente bem preparada?
Por exemplo, a Bárbara Ferreira, que faz obstáculos comigo, foi uma surpresa ao ser a primeira portuguesa no Europeu de Corta-mato. No apuramento foi a quinta ou sexta a ser apurada e na prova foi a melhor portuguesa. Já brinquei com ela e disse-lhe que não me iria ganhar nos obstáculos.
E no distrito a concorrência é forte?
Agora não. Já foi quando a Ana Paula Rodrigues corria. Era eu e ela, ela e eu...
As atletas que lutam pelos primeiros lugares são amigas ou adversárias?
Por mais amigas que sejam,nas provas há quem esqueça isso. Eu não sou assim. No apuramento para o Europeu pensei: ”Se passar a colega que for à minha frente, pode não ser apurada”. Entrei em stress por não saber se a conseguiria ultrapassar.
É mais cansativo correr ou subir aos pódios?
Há pódios a que é difícil subir (risos). Já tive quase a cair de um. Há outros em que temos que subir pelos degraus porque são enormes. E às vezes nem há pódios. Depende das provas.
Tem um vida igual às outras jovens de 18 anos?
Sim, absolutamente. Não é por ser atleta que não tenho tempo para fazer o que quero. Mas não sou muito de sair à noite.
E tem cuidado com o que come?
Como de tudo, só tenho algum cuidado quando há provas. Abuso nas massas, mas de resto não. À vezes acho que estou pesada e então tenho que perder peso.
Pesada é a partir de quando?
É a partir da minha cabeça. Às vezes sinto-me pesada a correr e acho que tenho que me sentir mais leve. Mas o peso deve estar igual.
Mas olha para a balança?
Raramente, também não peso muito.
Mas é uma atleta com comportamentos íntegros?
Sim, não gosto de bebidas nem faço directas. Gosto muito de dormir. Às vezes custa-me dormir na véspera das provas, mas basta que faça quatro boas horas de sono, para no outro dia me sentir bem.
Qual é o estado de espírito antes das provas. Nervosismo?
Fico nervosa em relação ao desempenho. Tenho medo que corra mal ou de saber que lá está alguém seja melhor que eu.
É também a pressão dos tempos?
Nem é isso. Por exemplo, tenho um bom tempo nos obstáculos e no nacional de juniores nem tive que o fazer para conseguir ganhar.
Mas os tempos não são uma preocupação?
Nas provas distritais não é fácil fazer grandes tempos. Quando não se tem ninguém, o vento é, como o meu treinador diz, o meu grande adversário. Nos nacionais é diferente. É muito mais fácil bater marcas quando se corre com atletas mais velhas. Elas correm e nós vamos atrás.
Tem por vezes dores num ombro. Tem algum problema?
Sim, às vezes tenho dores num ombro. Não é problema, é falta de aquecimento. Às vezes parece que fica trancado e isso causa-me algumas dores.
Prefere o Inverno ou o Verão para correr?
O Verão é horrível. O sol mata qualquer pessoa e por mais água que bebamos parece que estamos sempre desidratados. É muito mau. O calor é horrível e em pista ainda muito pior, parece que o chão está arder e os pés a torrar.
Como é a sua semana de treinos?
Faço bi-diários duas a três vezes por semana e só descanso ao domingo.
E no Verão, no fim da época, mantém o plano de treinos?
Não treino como costumo treinar durante a época, mas dou umas corridas, para reforço muscular e para não perder a base que já tenho. Por exemplo, este Verão andei a treinar, até na praia.
Mas este Verão foi muito quente.
Pois foi, eu sei...


Fonte: http://www.jornaltorrejano.pt/edicao/noticia/?id=8675&ed=752 

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